segunda-feira, 20 de setembro de 2010

A dama da noite.

Nada melhor para reavivar um blog às traças do que um conto - verídico - de cidade pequena.
Ao contrário do que o título possa sugerir, o acontecido se deu numa tarde.


Era sábado, num escritório de advocacia. Eu não estava lá, mas bem queria estar.
Lá pelas duas da tarde, a porta de vidro escuro se abre e uma mulher entra. Alta, morena e velha, "vestindo" um collant de criança solto, uma blusa maltrapilha e chinelos azuis-claro.
Seu nome era Cida, ela era vivida, e bem distraída. Mas não estava de saída. Aliás, estava prestes a começar seu espetáculo.
Imagina só, uma cidade pequena, no interior de São Paulo; todo mundo já tinha ouvido falar dessa tal mulher. E sabiam bem o que fazer se ela aparecesse. O grande truque é fingir que ela não está lá, não importa que tipo de ação alucinada ela faça. E foi o que ela fez.


Sedenta por atenção, ela escalou o sofá de espera e ficou lá, feito uma Vênus de Milo, imóvel. Mas não foi o bastante. Desgostosa - literalmente - com a indiferença das secretárias, ela alcançou o tubinho de lustra-móveis e mandou ver. Antes tivesse bebido tudo, ou lustrado o sofá. Ela esvaziou o tubo nas mãos e começou a passar nos braços, feito Monange.
Nenhuma palavra foi dita, muito menos depois dessa demonstração de insanidade absoluta. Bom, nenhuma palavra das secretárias. Cidinha estava, entre gemidos orgásticos, dizendo "Ai, dama-da-noite, ai, dama-da-noite".
Depois de se envernizar, ela saiu do escritório e tomou rumo sabe-se lá para onde. Só se sabe que ela deu as caras de novo à noite, destinada a estragar um velório. Mas isso é outro conto.


Não sei de onde ela é, se é seu nome de verdade ou o que aconteceu com ela agora. Mas sei que nunca vou esquecer dos seus chinelos azuis.

Um comentário:

Fábio disse...

queremos maissss...